Cores

Pra que servem as cores?

Hoje estou com as unhas coloridas de verde...
Ontem nada tinha nas mãos, mas estava bem
Até os dedos dos pés não se livraram dos verdes esmaltes...

O cabelo já nem sei de cor nomear
É uma mistura de fazes e  mechas de cores da vida.
O cinza anda atrás de mim, me consome.

E as cores pra que servem?

Por favor me encontrem ...
Antes que me perca num eterno mundo preto e branco!

Tempo

Passa tão rápido

Temos tão pouco

E o enchemos de coisas

Sempre sem tempo

Tão pouco tempo

Tão cheio tempo

Rápido tempo

Não quero perder os sagrados segundos

Do meu precioso tempo

Querido tempo

Indeterminado...

Tempo.

Sim eu gosto

Abracei o travesseiro

Mas não tem seu cheiro

Aquela pele macia...

Nem se comprara à fronha cor de rosa pintada.

Gosto de estar perto

Gosto de olhar, abraçar, de cheirar

Gosto de trocar nossos segredos secretos dos mais íntimos aos mais bizarros

Gosto tanto de você

Que um dia sem te ver parece um mês.

Sim eu gosto,

Gosto de estar com você.

O que sou?

Sou quem acredita no amor

Sou quem não vive sem amar

Sou viva e vivo pela vida, mas com amor!

Sem amor nada seria,

Sem amar, não viveria,

Sem perdoar me chamariam de máquina...

Se fosse máquina não teria amor, não viveria de verdade!

Seria vazia, e fria, sem o calor do amor!

Cinza

Se este ano tivesse uma cor

Seria o cinza

Quando as flores começar a ter perfume

Quando as nuvens de algodão viram cansão...

Tudo vira cinza

ou cinzas que não deixam de ter a cor cinza

Quando o sorriso vai tomando conta

E em casa amenizam-se as brigas

E o mundo vai colorindo de vagar

Ressurge das cinzas o cinza

Ano triste, cinza

A ultima faísca de cor se foi...

Deixando o adeus mais cinza

Palavras

Um dia tudo vai tão bem

E uma pequena falha de comunicação estraga tudo

Ah as palavras!

As palavras, tem tanto o poder de construir quanto de destruir

Têm a habilidade de fazer bem ou mal,

E sempre acertam o órgão mais frágil... o coração!

Ouvir adeus é como uma flecha que vai direto ao alvo: a dor!

Agora juntos

Sem você escrevo melhor

Canto melhor

Desenho melhor

Sem você danço melhor

Mentira!

Apenas bebo mais, e morro por dentro.

Rabisco qualquer palavra

Canto notas erradas

Desenho um pônei sem rabo

Danço sozinha em meio a multidão

E juntos...

Chegamos no horário.

Dançamos o mesmo passo

E me vê dançar frente ao seu espelho

Te ouço cantar e te canto leãozinho

Te desenho de olhos fechados...

Com você eu bebo junto e sonho junto,

Tudo junto.

E todo dia te quero junto.

Agora juntos

Alberto

Um dia, de mansinho, olhei pela janela

o vi chegar na casa ao lado.

Um completo apaixonado pela moça

de cabelos alaranjados e bochechas sardentas.

Trazia-lhe flores com cheiro de amor

Bombons com sabor de desejo

Bilhetes recheados de palavras doces e bonitas...

E eu sempre ali, no mesmo horário a espiar

Um dia as horas de seu relógio adiantaram-se de propósito

Como? Não sabe-se!

Cedo chegou e a viu em outros braços

Mas não eram braços peludos, ou tinha barba mal feita

Eram braços dourados, e lábios com batom de cereja

Agora tudo fazia sentido

As flores murchavam, os bombons venciam e os bilhetes partidos ao meio.

Nunca fora correspondido

Não por falta de romance

Apenas por não ser Juliana,

E sim um tal Alberto homem.

Aparento

Não sou, mas hoje estou!

Pareço-me tão velha quanto o mundo

As jóias já não me iludem

O pranto não desce

A vida, hoje, desaparece...

E estou morta!

Fecho os olhos, apago

Tudo morre,

E sobrevivo...

Acordando me vejo jovem

E viva

Ainda respiro

Coração bate

E as horas vão passando...

Corridinho

Adélia Prado

O amor quer abraçar e não pode.

A multidão em volta,

com seus olhos cediços,

põe caco de vidro no muro

para o amor desistir.

O amor usa o correio,

o correio trapaceia,

a carta não chega,

o amor fica sem saber se é ou não é.

O amor pega o cavalo,

desembarca do trem,

chega na porta cansado

de tanto caminhar a pé.

Fala a palavra açucena,

pede água, bebe café,

dorme na sua presença,

chupa bala de hortelã.

Tudo manha, truque, engenho:

é descuidar, o amor te pega,

te come, te molha todo.

Mas água o amor não é.

Gosto de gostar do gostar.

O que é pior, tenho muitos,

com a capacidade de serem amores

mas o antigo não me deixa querer

não me deixa viver

e eu gosto de sentir

de curtir

de fugir

gosto do passado

que durou trezentos e sessenta e cinco dias

gosto do estado de gostar do coração quebrado

do rompido e lúcido órgão do depósito de amores

e aos rumores verdadeiros: um adeus.